De acordo com os resultados provisórios divulgados no sábado à noite pelo Conselho de Jurisdição Nacional do PSD, Rui Rio obteve 15.301 votos, (49,44%), enquanto o antigo líder parlamentar Luís Montenegro conseguiu 12.767 (41,26%) e o vice-presidente da Câmara Municipal de Cascais Miguel Pinto Luz 2.878 votos (9,3%).
Por contabilizar estão 13 secções onde se verificaram irregularidades: Amadora (Lisboa), Alter do Chão (Portalegre) e as 11 da Região Autónoma da Madeira. O Conselho de Jurisdição garante que os votos da Madeira não foram contabilizados mas o desfecho seria o mesmo.
“Vitória expressiva”
E isso, no entender de Rui Rio, equivale a uma “vitória expressiva”, frisando ter ficado "a 0,56% da maioria absoluta", o que obriga a uma segunda volta apenas "devido a novas regras".
"É a primeira vez no PSD em que há uma segunda volta. Pelas regras antigas, isto estava arrumadíssimo. Mas comigo nada é fácil", observou Rui Rio, ainda líder social-democrata, em declarações aos jornalistas e militantes num hotel do Porto.
"Obviamente que, com um resultado tão expressivo, posso somar mais uma vitória ao meu currículo", observou, lembrando que a sua única derrota na política foram os resultados das eleições legislativas de outubro.
Rio recusou o desafio de Montenegro para um debate. "Não gostei, não vou repetir. Não beneficia o PSD e não serve para esclarecer os militantes", disse, referindo-se ao confronto na RTP.
Garantiu não ter negociado "um único lugar" em troca de votos. "Quem votou em mim, votou por convicção. Não negociei um único lugar. Não disse a ninguém: arranja lá os teus votos que te dou o lugar assim ou assado. Ninguém votou no seu interesse pessoal. E assim será na segunda volta", frisou.
Rio voltou a dizer que as autárquicas são prioridade, a par com uma oposição construtiva. Pretende abrir o PSD à sociedade, porque "não se podem restringir a ser quase exclusivamente a uma agência de distribuição de lugares".
"Todos os que me apoiaram há dois anos (data das eleições diretas que disputou com Pedro Santana Lopes) e agora não apoiam é por causa do seu lugar ou do lugar do seu amigo", alertou.
O social-democrata quis ainda afirmar diferença em relação ao discurso de Luís Montenegro: "Eu, depois de ganhar, não conto com Miguel Pinto Luz e seus apoiantes. Eu, depois de ganhar conto com Miguel Pinto Luz e com Luís Montenegro e seus apoiantes. Conto com todos", frisou.
Foram mais os que votaram na mudança do que na continuidade
Luís Montenegro realçou que "foram mais os militantes que votaram na mudança do que na continuidade" e 'piscou' o olho aos apoiantes do candidato que não passou à segunda volta, dizendo que se for eleito líder contará com Miguel Pinto Luz para os próximos desafios "políticos e partidários".
"Hoje foram mais os militantes que votaram na mudança do que os militantes que votaram na continuidade, é por isso que temos segunda volta", considerou Luís Montenegro
No final, com os jornalistas a questioná-lo com insistência, Montenegro respondeu que "claro" que acredita numa vitória na segunda volta que se disputará no próximo sábado, dia 18.
O antigo deputado elencou as "três preocupações" com que vai disputar a segunda: "unidade, clarificação e ambição".
"Unidade porque a minha preocupação é de ser um líder agregador, se tiver a confiança dos militantes quero na minha lista pessoas que estiveram ao lado de Rui Rio e de Miguel Pinto Luz", afirmou reiterando que o seu único adversário é o primeiro-ministro e líder do PS, António Costa.
O antigo líder parlamentar do PSD considerou que a próxima semana servirá para clarificar o que pretendem os militantes: "Entre uma estratégia de oposição firme, que defendo como ponto de partida face ao PS, e o prosseguimento da estratégia de subalternidade que tivemos com a atual liderança".
Luís Montenegro pediu ainda ambição aos militantes: "Ambição de vencer eleições autárquicas e eleições legislativas, ambição de governar Portugal".
"Quero finalmente fazer um convite ao dr. Rui Rio: um convite para que ele aceite desde já fazer pelo menos um debate televisivo na próxima semana. Este debate é essencial para ajudar os militantes a tomar a decisão final no próximo dia 18, não podemos fugir à nossa responsabilidade de debater o futuro do PSD e sobretudo o futuro de Portugal e como fizemos até aqui de o fazer com elevação e sentido de responsabilidade", afirmou. O convite foi depois recusado por Rui Rio.
Pinto Luz diz que a responsabilidade é agora "muito maior"
O vice-presidente da Câmara de Cascais, que reclamou ter alcançado 12% (contando com os votos da Madeira que o CNJ não contabilizou), considerou que a sua responsabilidade é agora "muito maior".
Miguel Pinto Luz falou de um resultado surpreendente, e sublinhou a responsabilidade que representa.
"A responsabilidade a partir de hoje é muito, muito maior", declarou Miguel Pinto Luz, numa curta declaração perante dezenas de apoiantes num espaço em Lisboa que serviu de quartel-general à sua candidatura.
Depois de cumprimentar Rui Rio e Luís Montenegro, Pinto Luz sublinhou que "o resultado hoje é claro": "Chegámos aos 12%, 12% dos militantes do PSD disseram que queriam uma forma diferente de fazer política, uma agenda diferente, prioridades diferentes".
"Partimos com as expectativas modestas, todos sabemos, mas penso que hoje podemos dizer com propriedade que surpreendemos todos, mesmo aqueles que tentaram a todo o custo a bipolarização nestas eleições", defendeu o vice-presidente da Câmara Municipal de Cascais.
"Conseguimos com a força das nossas ideias - e é muito importante isto - , recuperar muitos homens e mulheres afastados do PSD. Sabemos que é precisamente por aqui que o PSD construirá uma alternativa, dissemo-lo nos últimos dois meses e digo hoje outra vez: é com a força das nossas ideias, que o PSD voltará a liderar o nosso país", afirmou.
Pinto Luz defendeu que o PSD é o "único instrumento de mudança que Portugal precisa", para ser "a alternativa ao modelo socialista, estatizante", e declarou que a sua candidatura "é fiel depositária desses valores reformistas e de mudança".
Congresso marcado para fevereiro
Votaram 31.306 militantes, num universo de 40.604 inscritos, o que coloca a taxa de participação em 77,1%, a mais alta de sempre em percentagem em diretas, apesar de ser a mais baixa em números absolutos de todos os atos eleitorais internos.
Na eleição, registaram-se 219 votos em branco e 141 votos nulos. A confirmarem-se estes resultados, com um total de 30.946 votos expressos - só estes contam na decisão de haver ou não segunda volta - Rui Rio ficou a 173 votos da maioria absoluta com que evitaria ir novamente a votos no sábado.
Rio teve mais 2.534 votos que Montenegro e, em termos de estruturas, venceu em 13, enquanto o antigo líder parlamentar ganhou sete e Pinto Luz duas.
O atual líder ganhou Porto, Aveiro, Bragança, Guarda, Viana do Castelo, Vila Real, Santarém, Faro, Beja, Portalegre, Évora, Açores e Europa, enquanto Luís Montenegro venceu Braga, Leiria, Viseu, Coimbra, Castelo Branco, Lisboa Área Oeste e Fora da Europa. Pinto Luz saiu vencedor na Área Metropolitana de Lisboa e em Setúbal, reclamando também vitória na Madeira, mas os votos da Região Autónoma não foram contabilizados.
Em relação a 2018, quando disputou as diretas com Santana Lopes, Rio perdeu os distritos de Braga, Leiria e Viseu, mas ganhou estruturas em que não tinha vencido, casos dos Açores, Beja, Portalegre, Évora e Europa.
O CJN decidiu não contabilizar os votos da Madeira por estarem em desconformidade com o caderno eleitoral - a estrutura regional falava em 2.500 militantes em condições de votar, a secretaria-geral em apenas 104 -, e o seu presidente, Nunes Liberato, realçou que os dados divulgados não alterariam o desfecho das eleições diretas deste sábado.
Ainda assim, a polémica poderá não terminar por aqui, já que o secretário-geral regional do PSD-Madeira, José Prada, anunciou que haveria recurso caso estes votos fossem anulados ou excluídos.
A segunda volta vai ser disputada no próximo fim de semana.
O 38.º Congresso do PSD está marcado para 7, 8 e 9 de fevereiro, em Viana do Castelo.
c/Lusa
2020-01-12 14:55:00Z
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