O ex-ministro da Defesa, Azeredo Lopes, não estranhou a forma como foi feita a recuperação do armamento furtado em Tancos e considerou, por ver filmes policiais, normal a existência de um informador que não queria ser identificado.
Interrogado na segunda-feira pelo juiz Carlos Alexandre, titular da instrução do processo ao caso de Tancos, Azeredo Lopes terá dito que não viu nada de anormal na forma como as armas foram recuperadas, numa alegada encenação, que envolveu um informador, a Polícia Judiciária Militar (PJM) e a GNR.
"Por extravagante que me tenha parecido este procedimento, será de ver filmes policiais, pareceu-me um 'modus operandi' normal com um informador que diz que não quer ser identificado", disse Azeredo Lopes, segundo revela a RTP, que teve acesso ao interrogatório.
Azeredo Lopes terá considerado normal que o informador não quisesse ser identificado por receio da Polícia Judiciária civil, baseando essa convicção em informações que lhe teriam sido transmitidas pela voz do então chefe de gabinete, o general Martins Pereira, já inquirido nesta fase do processo como testemunha.
"Não detetei direta ou indiretamente no senhor general Martins Pereira uma qualquer preocupação, e ele era bastante preocupado com as questões da legalidade", argumentou Azeredo Lopes, segundo declarações reproduzidas pelo canal estatal de televisão.
A SIC teve também acesso ao interrogatório, realizado na segunda-feira, à porta fechada, e acrescenta mais uma alínea ao discurso do ex-ministro. "Esse informador não podia ser identificado porque tinha medo da Polícia Judiciária, porque a Polícia Marítima estaria disposta a colocar armas ou material militar no jardim do informador. Não está aqui em causa que fossem os autores do furto", disse Azeredo Lopes.
Em maio, alegara já, ao ser ouvido na comissão parlamentar de inquérito ao caso, que, após a recuperação do armamento - ocorrida a 18 de outubro de 2017 -, Martins Pereira lhe contara que a ação visara esconder a identidade do informador que colaborara na operação. A informação não foi, no entanto, partilhada com a PGR.
O ex-ministro diz que não denunciou a situação, porque deixou tudo nas mãos da então Procuradora-Geral da República, Joana Marques Vidal. "Não sou um órgão de investigação criminal. A senhora procuradora tinha dito claramente que ia fazer chegar uma participação disciplinar", afirmou.
Uma posição secundada pelo advogado do ex-ministro, à saída do interrogatório. "É um problema jurídico a discutir: eu entendo que não tem nada que denunciar", sublinhou, à saída do Tribunal de Monsanto, em Lisboa, Germano Marques da Silva.
O ex-ministro reiterou que está inocente, que não soube de qualquer investigação paralela da PJM e que desconhecia a encenação. A Acusação diz que dois meses antes da descoberta das armas foram deixados três papéis sobre a alegada negociação com os assaltantes, mas os documentos não deram entrada oficial no Ministério da Defesa.
"Um ministério muito reservado não é necessariamente um ministério onde esteja tudo registado, como eu ia verificando, de vez em quando, pelo desperecimento extraordinário de dossiês inteiros em situações anteriores", disse Azeredo Lopes, em declarações reproduzidas pela SIC.
Azeredo Lopes admitiu, ainda, que não percebeu que propôs louvores a alguns dos envolvidos na recuperação do armamento. "São processos definidos na esfera do gabinete, que surgem para assinatura e o ministro assina. O ministro da defesa Nacional sendo responsável pelos louvores não conhece 99% dos louvados", disse, em declarações reproduzidas pela RTP.
"Não vou revelar, por princípio, o que disse no interrogatório, mas posso e devo reafirmar, como sempre fiz, que nunca soube de qualquer encenação da entrega de armamento: se isso me tivesse sido comunicado, imediatamente teria participado às entidades competentes; jamais encobriria qualquer crime, fosse em nome do que fosse", afirmou por sua vez o ex-ministro, num comunicado, ao final da noite de segunda-feira.
2020-02-07 12:17:00Z
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